A verdadeira história primitiva da medicina oriental é tão antiga que está nublada pela incerteza e por um certo caráter mítico, mas sabe-se que a prática da acupuntura é anterior a 2500 a.C. Um modelo em bronze, com os pontos e meridianos acupunturais, está datado de cerca de 860 d.C. O texto médico mais antigo é o Huang Ti Nei Ching Su Wen (em geral, abreviado para Nei Ching) The Yellow Emperor's Classic of Internal Medicine, que se diz ter sido escrito por Huang Ti, o lendário Imperador Amarelo, falecido por volta de 2598 a.C. Esta obra é ainda uma fonte respeitada e muitíssima citada, bem como uma fonte importante de estudo no ensino da acupuntura moderna. No entanto, os peritos debatem ainda a verdadeira autoria e data do livro. A menção mais antiga ao Nei Ching fez-se durante a primeira parte da Dinastia Han (206 a.C. a 25 d.C.). Edições e comentários posteriores obscureceram mais a sua colocação cronológica e autoria originárias.
O texto desenvolve-se em forma de diálogo entre o Imperador Amarelo e o ministro Ch'i Po, no qual o monarca faz perguntas sobre saúde e medicina, explanando-se Ch'i Po, de forma abrangente, sobre teoria médica e crenças filosóficas.
O Nei Ching refere-se aos fatores geográficos que afetaram o primitivo desenvolvimento das técnicas médicas na China. Na medicina havia dois ramos distintos. Os métodos setentrionais, a partir da bacia do rio Amarelo, onde a vegetação era esparsa e o clima frio, abrangiam principalmente a acupuntura, a moxabustão e a massagem. A tradição meridional, originada na região do rio Yang Tsé, onde o clima era mais quente e existia uma vida vegetal variada e abundante que facultava aos habitantes dessa zona o uso de raízes, folhas e cascas de árvores, bem como outras substâncias, dava forma a um sistema muito amplo de tratamento herbáceo. Ambas as tradições nasceram das influências climáticas e ambientais das respectivas regiões, e como resposta aos tipos de doenças nelas mais comuns.
O Nei Ching vai ao pormenor de dizer quais as doenças que se encontram numa área e qual a forma ideal de tratamento. Refere-se ao povo do Leste, cuja alimentação à base de peixe e sal lhe causava "ardor interno", o que provocava úlceras, sendo o tratamento mais eficaz o da acupuntura com agulhas de pederneira. O povo do Norte está sujeito a muitas doenças, devido ao frio, e a moxabustão é o remédio ideal. A moxabustão é a queima de artemísia seca sobre determinados pontos e zonas, para produzir calor e estimular a circulação local. Cada área, Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro, é reverenciada. A massagem é o tratamento preferencial do povo da região central da China.
"Na região do Centro, a Terra, é plana e úmida. Tudo o que é criado pelo Universo encontra-se no centro e é absorvido pela Terra. As pessoas das regiões centrais comem alimentos misturados e não se cansam nem labutam. São muitas as suas doenças: sofrem de paralisia total, arrepios e febre. Essas doenças são tratadas mais eficazmente com exercícios respiratórios, massagens na pele e carne, exercícios nas mãos e nos pés. Daí o fato de o tratamento com exercícios respiratórios, massagem e ginástica dos membros ter a sua origem nas regiões do Centro" (The Yellow Emperor's Classic of Internal Medicine).
Os métodos setentrionais e meridionais foram reunidos formando, então, uma extensa teoria da medicina durante a Dinastia Han (206 a.C. 220 d.C.), quando a China foi unificada.
Por conseguinte, desde os primeiros tempos que a massagem foi reconhecida como uma das quatro formas clássicas do tratamento médico, ao lado da acupuntura, moxabustão e fitoterapia. O tipo de massagem utilizada chamava-se Ainmo ou Mo e era um misto de fricção e pressão nas zonas rígidas e doloridas(a moderna massagem chinesa chama-se Tui Nah). Não há dúvida de que descobrir quais as zonas e pontos eficazes para cada problema levou séculos de experiência, observação, tentativa e erro. E esse conhecimento teria sido transmitido oralmente, em grande parte de médico para aprendiz, de pai para filho, etc. A prova está no fato de a acupuntura ter sido bem documentada desde os mais antigos escritos, ao passo que os compêndios sobre os métodos da Ainmo são relativamente raros e, muitas vezes, abrangem exercícios respiratórios e físicos como o Qi Gong, Tai Chi Chuan e Tao Yin. Em The History of Scientific Thought, volume 2, Joseph Needham escreve que a massagem chinesa (Mo) deu origem a uma grande quantidade de obras, sendo as principais "The Manual of Nourishing the Life by Gymnastics (data desconhecida)" e "Eight Chapters On Putting Oneself In Accord With The Life Force de Kao Lien", com data de 1591.
No entanto, há quem acredite que a massagem que se serve dos fluxos energéticos do corpo precedeu, realmente, a acupuntura. De um ponto de vista prático, é certo que parece mais lógico ter surgido um sistema em que se pressionava e friccionava o corpo com as mãos antes do uso de instrumentos (ou seja, das agulhas da acupuntura). É também interessante notar que aos acupuntores dos tempos atuais se ensina geralmente à palpação (manual) dos pontos e a massagem, para os familiarizar com a energia do corpo, antes de os deixar usar agulhas. Uma possível prova em apoio da teoria de que a acupuntura apareceu depois da massagem e da moxabustão vem da descoberta, relativamente recente, de um texto com data anterior ao Nei Ching onde "Não são mencionados pontos nenhuns, apenas meridianos inteiros, retratando zonas de influência que precisam ser estimuladas por moxabustão. Este indício sugere que os meridianos existiam antes dos pontos" (T. Kaptchuk, Chinese Medicine: The Web That has no Weaver). O que se diz aqui é que o conhecimento dos meridianos e a aplicação de técnicas aos meridianos existiam antes de se conhecer o uso dos pontos.
INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS
Como já se disse atrás, as teorias essenciais à prática da medicina faziam parte da perspectiva chinesa geral do mundo, ou, por outras palavras, da sua filosofia. Dessas teorias, as mais proeminentes e mais conhecidas são as do Yin-Yang e dos Cinco Elementos, que brotam do conceito subjacente do Tao.
O Tao, em geral traduzido por Caminho, é uma explicação da origem do universo, de como se interpenetram as forças em jogo no dito universo e de como as pessoas se podem harmonizar com a natureza aderindo ao Tao. É fácil perceber como os antigos Chineses, uma sociedade alicerçada na agricultura, viam os ciclos e forças da natureza, acabando por criar um sistema de crenças e comportamentos onde se espalhavam os processos observados na própria natureza. Dizia-se que a prova de que alguém aderira ao Tao se via na sua saúde e longevidade: muitos textos chineses antigos referem-se aos sábios do passado que teriam vivido bem mais de cem anos. A formalização dessa filosofia, traduzida num "ir com o fluxo", acontece com o aparecimento do Taoísmo e a escrita do Tao Te King, por Lao Tsé, cerca do século VI a.C. No entanto, os conceitos de Yin-Yang e de Tao haviam estado integrados no psiquismo chinês durante séculos anteriores a isso.
A mais antiga referência ao Yin-Yang de que há registro encontra-se no I Ching, o Livro das Mutações. Tradicionalmente diz-se que os trigramas originais descritos no I Ching foram descobertos por Fu Hsi, desenhados na carapaça de uma tartaruga que saiu do rio Amarelo. As lendas estabelecem essa data por volta de 5000 a.C. Mas as datas dos comentários são bastante mais seguras: os do rei Wen e do seu filho duque de Chu, cerca de 1144 a.C., e um de Confúcio (551-479 a.C.). O ponto alto dos estudos no I Ching foi alcançado na Dinastia Han, altura em que as teorias separadas das medicinas setentrionais e meridionais da China foram reunidas para formar um todo amplo.
A teoria dos Cinco Elementos (muitas vezes traduzido como das Cinco Fases ou Cinco Transformações) desenvolveu-se mais tarde do que a do Yin-Yang, sendo inicialmente uma teoria independente. Teve vasta influência nas artes, cultura e política. Foi Tsou Yen ( 340-260 a.C.), chefe da escola filosófica do Yin-Yang, que fundiu esta teoria com a dos Cinco Elementos. Seguiram-se textos clássicos como "The Spiritual Axis", "The Classics of Difficulties" e "The Pulse Classic", que reuniram o conhecimento, a pesquisa, o desenvolvimento filosófico e a experiência prática acumulados pelos médicos durante séculos. Estas obras, juntamente com outras, formaram um grande corpo literário sobre teoria e prática médica oriental, que ainda hoje é lido, respeitado e mencionado como uma autoridade, mesmo no século XX.
A TEORIA DA MEDICINA ORIENTAL NO JAPÃO
Estas idéias só começaram a chegar ao Japão por volta do século VI d.C: o Budismo foi introduzido entre 538 e 552 d.C., e, com ele, registrou-se um influxo da filosofia e cultura chinesas. O Taoísmo, o Budismo e o Confucionismo foram às três principais correntes do pensamento chinês, cada uma delas combinando e misturando de modo diverso os conceitos do Tao e do Yin-Yang. Entretanto, as missões comerciais e diplomáticas aumentaram o contato entre o Japão e a China e, em 608 d.C., o príncipe Shotuku enviou à China uma delegação de estudantes japoneses com a finalidade de aprenderem a sua cultura e medicina. Por volta de 984 d.C. foi escrito o texto médico japonês mais antigo de que há conhecimento: os 30 volumes de Ishinho, de Tamba Yasuyori.
Contudo, o grande florescimento da medicina oriental deu-se no Período Edo (1603-1868) quando os Shoguns Tokugawa voltaram às costas à influência européia de Portugueses e Holandeses e promoveram o desenvolvimento das tradições orientais. Decretaram que a massagem era uma profissão que podia ser exercida por cegos, dado o seu apurado sentido do tato. Como era inevitável, uma vez que as oportunidades de instrução eram restritas para os cegos, começaram a perder-se as facetas médicas da Ainmo. Os massagistas principiaram a serem menos qualificados do que os médicos e, por conseguinte, muito menos considerados. Além disso, os médicos estavam a utilizar toda a gama das técnicas medicinais, especialmente a fitoterapia, que, devido à ingestão de substâncias, exige uma aprendizagem rigorosa. Os médicos e fitoterapeutas eram considerados os profissionais que trabalhavam mais efetivamente no reino da medicina, enquanto a Ainmo ia se associando, principalmente, à descontração e ao prazer.
É interessante notar, no entanto, que a aplicação médica da massagem ficou pela área da gravidez e do parto, pelo uso de uma forma de tratamento abdominal muito especificamente japonesa, conhecida por Ampuku. Trata-se de um gênero de massagem abdominal, especializada e usada durante séculos com fins medicinais. É eficaz em muitas doenças, mas a sua aplicação especial encontra-se relacionada com os problemas ginecológicos e relativos ao parto: vem referido no capítulo acerca das "Parteiras no Japão" em The Women, de Ploss & Bartels. O doutor Sigen Kangawa escreveu um livro, em 1765, chamado San-ron, a "Descrição do Nascimento". Kangawa empregou o Ampuku na obstetrícia, uma massagem usada no Japão desde tempos antigos, que se diz auxiliar em várias doenças. Introduziu-a como uma pressão, ou palpação, do abdômen, metódica, cuidadosa e branda, para diagnosticar a gravidez, bem como para acelerar o parto e eliminar os vários males das mulheres grávidas.
O QI
Desde tempos imemoriais que os Chineses consideram que o universo é constituído por energia em várias fases de vibração e manifestação. E, agora, os modernos praticantes da física quântica estão a provar, nos seus laboratórios, o que os antigos orientais souberam durante séculos: a energia Qi encontra-se nas partículas mais minúsculas que dão forma e substância ao universo que habitamos. Na verdade, essas tais partículas, os "blocos de construção" de toda a matéria e forma, não passam de Qi em vibração. Qi quer dizer, no seu sentido mais amplo, em todo o lado, em todas as coisas, sempre sem princípio nem fim, ao compasso do tempo, espaço, matéria, forma, movimento. Tudo é Qi, e Qi é tudo. Tudo o que somos capazes de imaginar é meramente uma manifestação do Qi numa forma diferente, indo dos níveis mais sutis espírito, pensamento, aura, amor, luz, ar, até às substâncias mais densas e materiais terra, pedra, metal, seres animados.
Para aqueles, dentre nós, que foram criados segundo a cultura ocidental, o conceito de um universo inteiro feito da mesma "matéria" é uma idéia estranha e difícil. Contudo, se atentarmos em alguns exemplos simples, facilmente vemos que o Qi como existência está constantemente a mudar, nunca deixando, todavia, de existir. Uma gota de orvalho, que se condensa no frio da noite, aquece e evapora-se durante o dia, erguendo-se para originar uma nuvem, que pode gelar até se transformar em granizo, cair na terra e voltar a derreter-se em água... Um bocado de madeira é atirado a uma fogueira, queima-se e flutua no ar, sob a forma de fumo e cinza, a cinza assenta na terra, onde passa a fazer parte do solo e nutre uma semente que se transmuta em árvore, cortada para lenha... Estes são dois exemplos muito simples de como as coisas mudam em forma e substância, continuando, todavia a existir.
Uma ilustração mais complexa, e mais demorada, podia ser a da criação do ser humano graças à atividade sexual de um homem e de uma mulher. O aglomerado de células desenvolve-se para formar um corpo humano perfeito, que surge no mundo como uma criança. Na pessoa que amadurece, as células estão constantemente a morrer e a ser renovadas, de maneira que o adulto não tem as mesmas substâncias carne, sangue e ossos que tinha em criança, embora seja a mesma pessoa. Por fim, as células morrem, e o corpo decompõe-se no solo, enquanto o espírito regressa àquilo a que os chineses chamariam "o grande vazio”.
Por estes exemplos, vemos que as coisas existentes estão num contínuo estado de transformação: mesmo os processos da vida, crescimento e morte são, em si mesmos, apenas mudanças de forma a um nível celular muito elementar. O que é comum a todas elas é o Qi. É o Qi a substância energética de todas as coisas, assim como é também a força subjacente a toda a mudança e movimento. Em resumo, todo o universo é composto de Qi, manifestando-se num número infinito de formas e fases de materialização. O Qi é "o Um" a que se refere à citação de Lao Tsé:
O Tao engendra o Um,
o Um engendra o Dois,
o Dois engendra o três e
o Três engendra as Dez Mil Coisas.
Todas pela sombra sustentadas,
pela luz enfrentadas
e pelo sopro eterno harmonizadas.
Lao Tsé: Tao Te Ching
é interessante referir que a maior parte das religiões acentua o papel do número um: o reconhecimento de Deus, ou o alcançar da unidade.
"O Um engendra o Dois”.O Qi do universo, no início dos tempos, diferenciou-se em duas forças, Yin e Yang. A característica do Yang era mais rarefeita, imaterial e mais vasta, e, portanto, flutuou ascendentemente para formar os Céus. O Yin era mais condensado e material, afundou-se e originou a Terra. Assim explicava os antigos filósofos chineses à criação do mundo.
A teoria Yin-Yang descreve como o Qi se desdobra em diferentes qualidades, e como essas forças atuam entre si: como teoria data de tempos pré-taoístas e constitui uma visão do universo baseada em séculos de experiência e observação do povo chinês. Devíamos observar que se trata de uma teoria, uma concepção intelectual humana, que pode ser usada para descrever e conferir sentido ao mundo real, tal como o experimentamos. Yin-Yang é também uma maneira de resumir o movimento do Qi, descrever como funciona o universo, e é também uma forma de pensar. Trata-se de uma teoria que tudo encerra e, ao mesmo tempo, um instrumento simples que, uma vez aprendido, se pode utilizar para explicar todos os fenômenos. Por exemplo: por que razão certas pessoas se dão bem juntas e outras não, por que motivo certos indivíduos sentem tendência para um determinado passatempo ou atividade; pode ainda explicar como escolher pessoalmente a melhor comida, por que se sofre periodicamente do mesmo tipo de problema de saúde, de que modo suCedem as mudanças políticas e econômicas, de que forma a lua afeta as marés... e por aí fora. As possibilidades são infinitas.
Se olharmos para o símbolo Yin-Yang, vemos que este exemplifica os princípios essenciais à teoria.
1. O círculo simboliza a globalidade e infinitude do Qi, não tendo princípio nem fim e saturando tudo.
2. A linha que divide as duas forças é curva, denunciando movimento e um fluxo constante de Yin em Yang, e vice-versa.
3. Em cada cor há um ponto da cor oposta. O que mostra que não há absolutos e que cada coisa encerra as sementes do seu oposto. Yin e Yang podem ser contrários, mas não pode existir um sem outro: não há alto sem baixo, calor sem frio. E cada um, Yin e Yang, podem ser também decompostos relativamente ao outro: no quente temos o tépido (mais yin) e o calor ígneo (mais yang); no frio temos o frio moderado (mais yang) e o gelado (mais yin).
4. As duas cores estão em proporções iguais, constituindo um equilíbrio dinâmico. Quando há mais do que um aspecto, há menos de outro, e nos extremos transformam-se um no outro.
Por conseguinte, a dinâmica de Yin-Yang é uma teoria muito flexível e que encerra tudo. As suas características não são exclusivas, mas sim complementares e relativas. A vida não é preta e branca, tem, sim, uma escala de cores que vai de uma ponta do espectro à outra, sempre em mudança.
Os significados originários de Yin e Yang eram "o lado sombrio de uma colina" e o "lado ensolarado de uma colina", respectivamente. Portanto, Yin estava associado à escuridão, frio, repouso, sossego; e Yang era o seu oposto, luz, calor, atividade, movimento. Pela associação, feita mais tarde, de Yang com o Céu e de Yin com a Terra, atribuiu-se uma série inteira de propriedades a cada categoria, tendo sempre em mente o relativismo dessas mesmas propriedades. As principais são:
No que diz respeito à medicina, Yin-Yang é o princípio fundamental usado para diagnosticar o estado do Qi em cada indivíduo e para descrever a natureza e localização da doença.
No corpo, as propriedades Yin e Yang podem ser categorizadas da seguinte maneira:
O princípio Yin-Yang tende a ser usado como um guia geral para o estado do Ki de uma pessoa. Todos nós temos uma constituição que tende a ser mais Yin ou mais Yang, por natureza. Contudo, se a curto prazo as forças Yin ou Yang predominarem acentuadamente no corpo ou na mente, então haverá um desequilíbrio, provocando sintomas de um tipo ou de outro. Se nos servirmos das listas acima inseridos para nos darem uma idéia quanto às propriedades Yin e Yang, veremos que os sintomas ou desequilíbrios Yang, para falar na generalidade, incluiriam, por exemplo, stress, tensão, superatividade, febres, "energia bloqueada"; e os sintomas Yin cansaço, letargia, sensação de estar "drogado", desânimo, "falta de energia". Graças à teoria Yin-Yang podemos compreender a constituição de uma pessoa ou as suas tendências a longo prazo, e o seu estado ou os seus sintomas a curto prazo.
Os Cinco Elementos
Os Cinco Elementos representam uma classificação mais adiantada do Yin-Yang, em formas diferentes de Qi, reportadas às propriedades do Metal, Água, Madeira, Fogo e Terra. Devemos sublinhar que a palavra elemento tem, de certo modo, uma conotação fixa que não existe em chinês. Daí a teoria ser freqüentemente designada pelas traduções alternativas de Cinco Transformações ou Cinco Fases. Os Elementos são, de fato, descrições do Qi em estágios e processos de mudança diferentes. Para quem pratica Shiatsu e outros tipos de medicina oriental, a Teoria dos Cinco Elementos é um modelo muito útil para se trabalhar, por ser mais tangível e, portanto, mais fácil de compreender do que as propriedades do Yin-Yang, que parecem por vezes nebulosas. Tal como no Yin-Yang, a perspectiva universal dos Cinco Elementos brotou da observação dos ciclos da natureza e da categorização dos fenômenos que nela atuam.
A Teoria dos Cinco Elementos abrange dois aspectos: primeiro, o agrupamento das coisas, ou fenômenos, com uma característica energética semelhante em correspondência e, segundo, o fluxo de energia entre os Elementos em seqüências muito definidas, ou ciclos.
Cada Elemento possui as suas propriedades e qualidades características, que se podem entender a um nível de intuição e senso comum. A energia da Madeira, por exemplo, é a ascensão, expansão e noção de crescimento que temos na Primavera, quando a natureza começa a despertar do Inverno e principia a grande onda de atividade que dá início ao ano. A qualidade do Fogo é o derradeiro Yang do auge do Verão, quando a natureza atingiu o seu pico de crescimento, as árvores estão a ficar o mais frondosas possível e as flores a desabrochar. A Terra funciona como o elemento central e equilibrador quando a energia se começa a transformar num movimento descendente: está associado ao fim do Verão e, também, aos últimos dias de cada estação, quando o Qi desta principia a mudar para a seguinte. A energia do Metal é um movimento consolidador e introvertido, como a contração da seiva nas árvores no Outono. Condensa as coisas nas partes que as constituem e cria as fronteiras que as definem: como uma neblina de Outono num vale, originada pela água a condensar-se, mas incapaz de subir e de se transformar por evaporação. A Água é o Yin derradeiro: o tempo tranqüilo, frio e repousante do Inverno. Tem uma faceta de espera, de serenidade, que se poderia descrever como potencial armazenado, contudo sempre flexível e poderoso (pensem na água a encher um recipiente e a adaptar-se-lhe; pensem na devastação provocado pelas cheias).
As correspondências dos Cinco Elementos agrupam fenômenos que se considera terem propriedades energéticas semelhantes, como uma orquestra em que todos os instrumentos tocassem a mesma nota.
Quando são aplicados ao reino do corpo, mente e espírito humanos, os Cinco Elementos podem ser um instrumento inestimável para apontar o local onde o Qi do corpo se desequilibra e por que motivo.
O segundo aspecto importante da Teoria dos Cinco Elementos é a sua descrição muito específica do fluxo energético, resumido nos Ciclos Gerador(Shen) e Inibidor(Ko). No Ciclo Criador, cada elemento origina o seguinte: portanto, a Madeira origina o Fogo, que origina a Terra e assim sucessivamente, em redor do círculo. Um bom exemplo disto é o ciclo das estações: na Primavera (tempo de energia da Madeira) a energia da Terra sobe e explode na forte atividade do Verão (Fogo), que então se transforma em Verão de São Martinho (tempo da energia da Terra). Este, por seu turno, suaviza-se no tempo das colheitas do Outono (Metal) e, então, o Qi da terra repousa e armazena-se durante o Inverno (tempo da energia da Água) antes de principiar, novamente, todo o processo, na Primavera. O Ciclo Controlador mostra a maneira como os elementos também se limitam uns aos outros para erguer uma barreira ao processo de crescimento, que, de contrário, seria infinito. Mais uma vez, podemos retomar o exemplo da natureza se quisermos explicar os mecanismos que aqui atuam: a Água apaga o Fogo, o Fogo derrete o Metal, o Metal corta a Madeira, a Madeira (árvores) estabiliza a Terra, a Terra contém a Água.Atentemos também que na medicina tradicional chinesa existe ainda o ciclo Contra-Inibidor, onde Água destrói Terra, Terra destrói Madeira, Madeira destrói Metal, Metal destrói Fogo e Fogo destrói Água.
FUNCIONAMENTO DO QI NO CORPO
Quando aplicamos as teorias generalizadas do Yin-Yang e dos Cinco Elementos ao corpo, estas fornecem-nos uma descrição muito eficaz das formas como o Qi brota e se equilibra. Ter saúde exige uma fluência livre e harmoniosa do QI em todas as partes do corpo, bastante à maneira de uma rede fluvial correndo uniformemente pela terra. E como a mente, as emoções e o espírito não passam de um aspecto menos denso do Qi corporal material do indivíduo, quando ela desliza suavemente no corpo também se encontra equilibrada na mente e no espírito. É essa a essência da aproximação holística da medicina oriental e do Shiatsu, em especial: podemos sentir o desequilíbrio do Qi tocando no corpo, seja qual for o nível a que o desequilíbrio se esteja a dar (físico, emocional, espiritual), e, usando a técnica pressão, fricção e estiramento , somos capazes de devolver ao Qi o seu equilíbrio.
O Qi chega-nos de três fontes básicas. O Qi ANCESTRAL vem dos nossos pais: podemos dizer que é a herança genética e a constituição básica. O Qi ALIMENTÍCIO é o que ingerimos quando comemos. Quanto ao Qi ETÉREO, ele vem da respiração. Estas três formas juntas constituem a qualidade do nosso Qi global.
E o Qi tem cinco funções básicas no corpo:
1. Movimento: O Qi origina qualquer forma de atividade, seja física ou mental, voluntária ou involuntária.
2. Proteção: O Qi protege o corpo de influências exteriores, como o frio, o vento, as infecções, etc.
3. Calor: o Qi mantém aquecidas todas as partes do corpo, regulando a temperatura geral e, também, a circulação periférica.
4. Transformação: o Qi transforma os alimentos nos vários constituintes de que precisamos para ter saúde.
5. Retenção: o Qi conserva os órgãos no seu devido lugar, evitando prolapsos, mantendo o sangue nos seus vasos, etc.
A teoria chinesa da acupuntura faz uma classificação total e complexa das manifestações diferentes do Qi no corpo/mente, que os terapeutas de Shiatsu conhecem, mas que para nós não se torna necessário abordar. Os únicos dois aspectos do Qi em que será útil repararmos são Jing e Shen. Trata-se de termos chineses, e no Shiatsu temos tendência para os usar, em vez dos equivalentes japoneses. Jing é a energia essencial que governa os processos prolongados do crescimento, maturação e morte. É responsável pela nossa capacidade de ter filhos e pelo ritmo a que envelhecemos. A Jing encontra-se nos Rins. Quanto a Shen traduz-se como espírito ou mente, mas, na realidade, acompanha ambas essas facetas. Tem a ver com as nossas emoções e também com o conhecimento e consciência que constituem a nossa personalidade. Diz-se que a Shen reside no Coração.
CAUSAS DE DESEQUILÍBRIO
Nunca há uma só causa, mas sim uma rede de fatores que podem se reunir para se manifestar segundo um modelo especial de desequilíbrio. A medicina oriental classifica basicamente as fontes de desequilíbrio em fatores internos ou emocionais, externos ou climáticos, comportamentais ou através de uma miscelânea de fatores.
As sete emoções principais são: alegria, tristeza, medo, susto, preocupação, obsessão e fúria. Cada uma delas está associada a um meridiano específico. Por exemplo: a alegria afeta o Coração, a fúria afeta o Fígado, o medo afeta os Rins, etc.
Os fatores externos podem ser comparados a condições climáticas e, de fato, quando as estações mudam ou há uma alteração drástica do tempo, aparecem com freqüência sintomas de doenças. Muitas vezes, esses sintomas apresentam as mesmas características que as condições climáticas causadoras. E, novamente, possuem associações específicas aos Elementos. Por exemplo: o frio afeta o elemento Água e provoca sintomas de frieza e tremura; o vento produz sintomas que se deslocam pelo corpo e está associado ao elemento Madeira; o calor origina temperaturas altas, suor e sede, que prejudicam o elemento Fogo. A umidade induz descargas, muco e sensações de peso na cabeça e membros afetando, antes de mais nada, o elemento Terra; a secura atormenta o elemento Metal e os sintomas que a acompanham incluem tosse seca, pele ressecada e prisão de ventre.
A miscelânea de fatores explica-se bem a si mesma: a maneira de viver e o stress, a alimentação, o nível de atividade física e sexual, lesões, dentadas e ferroadas, mau tratamento médico e medicação mal utilizada.
Compreendendo, antes de qualquer coisa, de que modo o Qi pode ser prejudicado, chegaremos a pistas que nos levem a tratar os desequilíbrios daí resultantes.
OS MERIDIANOS
O Qi desloca-se pelo corpo todo, mas, em certas vias definidas, flui mais densamente. E essas vias são conhecidas por meridianos. Por sua vez, os meridianos formam um círculo contínuo de linhas que permitem a passagem de diferentes tipos de Qi por todo o corpo. Cada meridiano é designado segundo um órgão, por exemplo: meridiano do Coração, meridiano da Bexiga, meridiano dos Pulmões. No entanto, o meridiano não só está relacionado com o órgão, como também abrange uma quantidade de significados baseados em torno de uma determinada função. Na realidade, a forma mais simples de definir um meridiano é em termos de função. Em vez de pensar nele como uma via ligada a um órgão, devíamos considerá lo como a concentração de uma qualidade funcional energética especial no corpo. Quando atinge o seu ponto mais intenso, cria aí um órgão físico para desempenhar a dita função. O conhecimento do local por onde o meridiano passa tem-se desenvolvido através de séculos de observação e de experiência clínica, e hoje pode medir-se com instrumentos eletrônicos. Os terapeutas de Shiatsu aprendem a sentir os meridianos graças a uma sensibilidade táctil cada vez mais apurada.
Existem doze meridianos que correm dos dois lados do corpo e dois canais centrais. Estão classificados em pares Yin e Yang, por Elemento, e segundo a sua função. Se imaginarmos alguém de pé, com os braços esticados para cima, os meridianos Yang correm do "Grande Yang", o Céu, pelas costas e faces exteriores do corpo num movimento descendente, enquanto os meridianos Yin correm do "Grande Yin", a Terra, pelas partes frontais e interiores dos membros num movimento ascendente. Cada Elemento possui uma propriedade energética especial que regula uma determinada função, função essa desempenhada por um par de meridianos que são, efetivamente, aspectos Yin e Yang da mesma função ou qualidade do Qi, funcionando como os dois lados da mesma moeda. O quadro seguinte mostra as funções dos meridianos, recorrendo à Teoria do Shiatsu Zen.
Repararão que a ordem dos meridianos aqui é diferente da ordem do fluxo dos Cinco Elementos quando se usa o Ciclo Criador. Isso se passa porque, na Teoria dos Meridianos, o Qi corre de um meridiano para o seguinte numa curva contínua: o meridiano dos Pulmões acaba no ponto onde começa o meridiano do Intestino Grosso; onde acaba o meridiano do Intestino Grosso, começa o do Estômago. E cada meridiano está ligado, também, a uma determinada hora do dia, quando a sua energia é mais forte, o que constitui um instrumento muito útil no diagnóstico, quando se determina a força e fraqueza de alguém.
O Ciclo do Relógio Chinês é o nome por que se designa este aspecto da teoria, e fica assim distribuído:
Mestre Sérgio Silva
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