PENSAMENTOS TAI CHI, Clássicos do Tai Chi Chuan


Hoje começaremos a falar sobre os Tratados Clássicos do Tai Chi Chuan. Daremos início a esta série com o tratado do Mestre Chang San Feng, considerado por nós o fundador da Arte do Tai Chi Chuan.


"A partir do menor movimento, todo o corpo deve estar leve e ágil, com todas as partes ligadas." Durante a prática do Tai Chi Chuan você deve se esforçar para conseguir movimentar-se coordenadamente com o corpo inteiro, constituindo uma unidade completa. O Tai Chi foi criado como um sistema baseado em princípios universais de equilíbrio e harmonia. O universo movimenta-se e exerce sua influência de maneira coordenada e unificada, portanto devemos praticar com a intenção de criar um mini universo dentro de nós.





"Convém estimular o sopro(Qi)a energia interna), concentrar o poder espiritual. O espírito deve estar condensado no centro do seu corpo." O cultivo do Qi(energia interna) também estimula o poder espiritual, que deve permanecer recolhido no centro do corpo. Um Qi mais forte ajuda a elevar o poder espiritual. Não devemos deixar que o espírito se perca e encaminhe-se para fora. Ele deve ser condensado dentro de si para que se recicle.


"Os movimentos não devem apresentar nenhuma ruptura, nenhuma reentrância e nem saliência, e não apresentar descontinuidade." Quando conceberes o Tai Chi como a Arte da disciplina e considerar-se como um verdadeiro artista marcial, sua atitude deverá ser a de buscar a perfeição, melhorando continuamente o estudo e a prática até que não haja mais defeito nenhum. Seus movimentos deverão ser ligados, fluidicos. Quando terminar um movimento o próximo deverá já ter começado, não havendo interrupções.


"A energia enraiza-se nos pés, desenvolve-se nas pernas, é comandada pela cintura, sobe pelas costas chegando aos braços, e manifesta-se nos dedos." O grande Mestre Yang Chien Hou(1839-1917), filho do fundador da Família Yang(Yang Lu Chan) recordava este princípio aos seus alunos durante a prática. Depois que alcançares um certo grau de consciência do Qi, deves aprender a baixar a sensação do Qi até o chão para projetá-lo para cima desde os pés e subindo pelas pernas. Por este motivo deves permanecer com os joelhos semiflexionados, não perdendo a flexibilidade. Isto permite que a vibração do Qi seja transmitida dos pés aos joelhos, e destes aos quadris. Note que o texto diz que as raízes do Qi estão nos pés, o que dá ênfase a importância dos pés estarem firmementes plantados no chão como as raízes de uma grande árvore, e a sensação do Qi deve penetrar fundo no chão.  


"Dos pés às pernas e à cintura o corpo deve operar como se todas as partes fossem uma só; assim seremos capazes, no avanço e no recuo, de captar o momento propício e obter uma posição vantajosa. Caso contrário, o corpo será deslocado, defeito proveniente das pernas e da cintura." Agindo com esta intenção, permite que mova-se livremente para frente e para trás, com pleno controle do equilíbrio e da posição. Quando isto não é feito perde-se todo o controle do sistema corporal, obrigando-o a estudar e praticar mais posturas de base.


"Aplica-se o princípio seja qual for a direção. Tudo isso é um caso de intenção e naõ uma coisa exteriro. O alto não vai sem o baixo, nem a esquerda sem a direita, nem o dianteiro sem o traseiro; se a intenção é ir para cima, coloquemos o pensamento voltado para baixo, exatamente como quando queremos arrancar uma planta; se lhe acrencentarmos a idéia de torção, é certo que a própria raiz se romperá e será rapidamente destruída. Convém distinguir claramente o 'vazio' do 'cheio'. Cada parte do corpo corresponde ao 'vazio' ou a 'plenitude'. O corpo deve estar ligado, articulação por articulação, sem nenhuma descontinuidade." Esse trecho versa sobre a tática a ser empregada no combate. Por exemplo, a fim de confundir o adversário, todo movimento para cima deve ser precedido de um movimento para baixo; atraído para baixo, o adversário terá uma reação para cima levantando seu centro de gravidade, onde causará falta de estabilidade nos pés; neste momento deve se atacarpara o alto seguindo com efeito o sentido de sua reação.


A aplicação destes princípios promove a fluidez do movimento de Tai Chi em qualquer direção. 


Em tudo deves dar ênfase ao uso da mente para comandar seus movimentos e não o simples uso da musculatura externa. 


Deve obedecer também ao princípio Tai Chi(a união e harmonia dos opostos). 


Quando se movimentar para cima, a mente deve ter consciência do baixo; quando se movimentar para frente, a mente deve ter consciência da parte de trás; quando se movimentar para direita, a mente deve ter consciência da esquerda. 


Tais princípios tem relação com os movimentos do Tai Chi da mesma maneira que, quando se desarraiga um objeto e se destroem suas fundações ele acaba por cair mais cedo.


Além de separar claramente o positivo do negativo, de localizar o substancial do insubstancial. Quando o corpo todo está ligado com todas as suas partes ligadas, ele torna-se uma grande interconexão de unidades de energia positiva-negativa.


Cada unidade de energia deve estar ligada a todas as outras unidades para que não haja descontinuidade entre elas.


Nas formas longas o movimento do corpo deve assemelhar-se com o fluxo rítmico da água de um rio.


Na forma, aparar,lançar para trás, pressionar, empurrar, puxar e torcer, do cotovelo e da inclinação para frente são chamadas as formas dos Oito Trigramas( Ba Guá ).


Na postura, os movimentos para frente, para trás, para esquerda, para direita e permanecer no centro são chamados de passos dos Cinco Estilos.


Aparar, lançar para trás, pressionar e empurrarsão chamadas as quatro direções cardeais.


As formas puxar e torcer, dividir, do cotovelo e da inclinação para frente são chamadas as quatro diagonais.


Os movimentos para frente, para trás, para esquerda, para direita e permanecer no centro são chamados respectivamente de metal, madeira, água, fogo e terra.


Quando combinadas são chamadas de os Treze Estilos Originais do Tai Chi Chuan.


Mestre Sérgio Silva


Referências


- Liao, Waysun. Clássicos do T'ai Chi. Editora Pensamento-Cultrix. São Paulo, 2003.


- Despeux, Catherine. Tai-Chi-Chuan, Arte Marcial, Técnica da Longa Vida. Editora Pensamento-Cultrix. São Paulo, 1991.   

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